Desde meados dos anos 60, quando a General Eletric apresentou o primeiro aparelho de mamografia, o exame tornou-se o instrumento mais eficaz da medicina para diagnosticar precocemente o câncer de mama. É possível identificar um tumor até dois anos antes de ele ser palpável – fator decisivo para a sobrevivência da paciente. Segundo tipo mais frequente de câncer no mundo, o câncer de mama tem 95% de chance de cura se diagnosticado precocemente. No primeiro semestre de 2015, foram feitas 276,6 mil mamografias no estado, 42% do total registrado em todo o ano passado. Nos últimos anos, o acesso à mamografia no Sistema Único de Saúde e o tratamento do carcinoma têm sido ampliados, porém, com alguns entraves e falhas, como os resultados falsopositivos e limitação na detecção desses casos em mamas densas. Muitas mulheres são diagnosticadas com câncer de mama, passam pelo tratamento e tempos depois descobrem que a doença nunca existiu.

Esses diagnósticos são chamados de falsopositivos, ou seja, ocorrem quando a mamografia indica um sinal de suspeita quando na verdade há um achado insignificante de imagem no mamógrafo e o especialista diagnostica neste momento o câncer mamário. Estudo da Universidade de Copenhague, na Dinamarca, acompanhou, durante quatro anos, 1.300 mulheres que precisaram passar por exames de acompanhamento depois de uma suspeita de câncer de mama gerada por uma mamografia de rotina. Foi constatado que para cada mulher que morre de câncer de mama, 200 recebem um falsopositivo. Os resultados mostraram que as mulheres foram profundamente afetadas pelo achado mamográfico, com os sintomas persistindo vários anos depois que a suspeita do câncer de mama foi descartada. Embora as mulheres que receberam a notícia inicial negativa sejam declaradas saudáveis após exames de acompanhamento, elas são tão afetadas pela primeira mensagem que ainda poderão mostrar sinais de estresse e depressão vários anos após o falso alarme.

Em Minas Gerais, 20% das mamografias têm laudos equivocados. Em muitos casos, o exame tem má qualidade técnica, erros na dose de radiação, problemas com a qualidade do filme, ou na formulação do laudo. Isso ocorre, principalmente, porque as mamografias não são feitas por especialistas. Para diminuir esse percentual, está em tramitação no poder público o Projeto de Lei 528/15, que, se aprovado, irá monitorar a qualidade dos exames de mamografia realizados nas redes pública e privada de saúde do estado.

Tendo em vista este cenário, outros exames devem ser considerados após uma mamografia com achado de anormalidade, para que se tenha certeza de que existe algo relevante. Temos de fazer tudo o que pudermos para reduzir o número de mamografias falsopositivas, cada caso deve ser tratado em sua individualidade. Precisamos melhorar a quantidade e a qualidade das informações transmitidas às mulheres sobre o rastreamento mamográfico, diminuindo as consequências psicológicas associadas a essa recomendação. Porém, é importante ressaltar que a mamografia não deve ser descartada. A Sociedade Brasileira de Mastologia recomenda que o exame seja feito, anualmente, a partir dos 40 anos. Devemos aliar todas as ferramentas que temos a nosso favor para auxiliar da melhor maneira tantas mulheres que nos procuram todos os dias.

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