Alvo de preocupação devido ao risco de novas epidemias com a chegada do verão, a chikungunya também gera alerta por causa do aumento no número de mortes relacionadas à doença.

Dados de governos estaduais e dos ministérios da Saúde e do Desenvolvimento Social obtidos pela Folha dão mostras desses impactos. Neste ano, por exemplo, já são ao menos 156 mortes por chikungunya confirmadas no país, contra seis em 2015, avanço de 2.500%, segundo levantamento da reportagem junto a secretarias estaduais de saúde do Nordeste, Rio e São Paulo.

Esse número tende a crescer, já que há em investigação ao menos 432 mortes suspeitas de ligação com arboviroses como dengue, zika ou chikungunya, sendo que essa última responde pela maioria das confirmações.

“É um número altíssimo. É a mais grave das arboviroses”, diz Carlos Brito, professor da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco). No Nordeste, o total já supera as mortes por dengue neste e nos últimos dez anos.

Ao mesmo tempo, especialistas também apontam a possibilidade de subnotificação. Isso ocorreria porque, enquanto na dengue os casos se agravam ainda na fase aguda dos sintomas, as mortes por chikungunya ocorrem geralmente após 20 a 30 dias do início do quadro, o que dificulta a associação com a infecção prévia pelo vírus.

Apesar do aumento em relação ao ano passado, a maioria dos registros agora confirmados são de mortes registradas entre fevereiro e abril deste ano, mas que houve demora na notificação ou investigação.

A idade das vítimas varia entre 0 e 98 anos –idosos e pacientes com doenças associadas, como hipertensão, diabetes e problemas renais, são tidos entre os grupos mais vulneráveis a complicações. “Mas também existe um grupo de pacientes jovens, em uma proporção menor, que morrem sem nenhum fator de risco associado”, completa Brito.

VERÃO E ALERTA

Os dados dão um retrato do avanço recente da chikungunya, considerada a principal ameaça de epidemia para o próximo verão, período em que há maior infestação do mosquito transmissor da doença –além do Aedes aegypti, a chikungunya é transmitida pelo Aedes albopictus.

Em todo o ano de 2015, foram 38 mil casos prováveis da doença registrados após atendimentos na rede de saúde. Neste ano, dados atualizados do Ministério da Saúde até o dia 25 de outubro já apontam 251 mil.

Com sintomas parecidos aos da dengue, a chikungunya se diferencia pelas fortes dores que causa nas articulações de mãos e pés, as quais podem se estender por meses –e até anos.

Para Rivaldo Venâncio, pesquisador da Fiocruz, os dados deixam clara a necessidade de preparar a rede de saúde.

“Se temos dificuldades em conter epidemias, poderíamos dedicar parte de nossas políticas públicas para organizar a rede de atenção aos nossos doentes. Não precisamos esperar chegar o mês de fevereiro e ter as unidades de saúde entupidas.”

Ainda segundo Venâncio, a ocorrência de mortes por chikungunya já era registrada na literatura. O alto número, assim, reflete os primeiros impactos do avanço da doença no país.

“A morte não deixa de ser uma ocorrência rara [se comparada com a população]. Mas é um número mínimo que, quando a base que adoeceu é muito grande, toma um vulto assustador”, diz.

Luciano Pamplona, da Universidade Federal do Ceará, diz que o número registrado não era esperado. “A história anterior à chikungunya chegar ao Brasil era uma doença que limitava muitas pessoas, mas não matava tanto.”

Em nota, o Ministério da Saúde informa que essas mortes estão sendo avaliadas junto aos Estados e que o aumento na detecção ocorre devido à adoção de um protocolo específico para investigação. Diz ainda que o avanço da chikungunya no país já era previsto, “uma vez que é uma doença recente e, por isso, a população está mais suscetível.”

“O Ministério da Saúde trabalha com a possibilidade de que ocorra um aumento no número de casos nos próximos meses em alguns Estados ainda não afetados pela doença devido à suscetibilidade da população e às condições climáticas favoráveis como o calor e as chuvas, condições ideais para a proliferação do Aedes aegypti”, informa.

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