Nomofobia – medo ou ansiedade pela falta de uso do celular. Em outras palavras, é o medo irracional de ficar longe do celular ou que o mesmo fique sem sinal, bateria ou que seu pacote de dados te deixe sem acesso à internet. Atualmente estima-se que no Brasil, 10% da população apresenta problemas de saúde causados pela nomofobia.
Para a psicóloga e psicanalista Maria Fernanda Cyrino, o vício em tecnologia e a dependência de telas devem ser estudados mais a fundo. “A preocupação com o vício em tecnologia é algo real, especialmente para a geração que nasceu na era digital. Como profissional da saúde mental, tenho trabalhado com pacientes de todas as gerações sobre o tema, à medida que aparecem nos atendimentos.”
A série de livros, “Aprendendo a Viver”, do grupo Ciranda Cultural, apresenta um panorama sobre o vício em novas tecnologias, que provoca uma reflexão sobre esse caminho que vem desde a invenção da lâmpada elétrica, passando pelo surgimento do rádio, TV, vídeo games, computadores, internet, celulares. Escrito por Elisardo Becoña Iglesias, na edição de 2008, já se falava sobre os riscos da internet e da existência de crianças e adolescentes viciados em celulares.
“Aumento da ansiedade, baixa autoestima, excesso de imediatismo, diagnósticos oftalmológicos, isolamento social, burn out, perturbações de sono e até mesmo questões nutricionais, tem aparecido com mais frequência no consultório. E, quando paramos para analisar os hábitos da pessoa, o excesso de telas e de dependência da tecnologia, estão relacionados com esses pontos. Porém, é preciso dizer que a Nomofobia, enquanto ‘transtorno’, não está oficialmente reconhecida no DSM 5 – Manual de diagnóstico e estatística dos transtornos mentais.”, comenta Cyrino.
Em suma, a fala da psicóloga Maria Fernanda apresenta possíveis sintomas para esse problema de saúde. Talvez a grande questão seja realmente “o excesso.” Pensando sobre todos os estudos e parâmetros de cuidados com a saúde, o excesso é sempre o vilão. Logo, a busca pelo equilíbrio deve ser a maneira para encontrar a saída para o problema.
Causas e sintomas da Nomofobia
De modo geral, especialmente entre jovens, a insegurança e o pertencimento podem ser dois fatores para a Causa da nomofobia. Afinal, estar atrás de uma tela, promove uma sensação de segurança. E, é nessa faixa etária que a identificação social e a busca por pertencer a um grupo, se torna mais latente. Um exemplo disso são os jogos online. Jovens se sentem pertencentes a um grupo, que gosta da mesma coisa, com uma tela entre eles. São amigos da “vida real”, que só interagem no contexto virtual. Deixam muitas vezes de ir para um evento físico, pois o virtual lhes proporciona diversão e segurança.
Fora do universo virtual, estar presente em um círculo social, para essa geração, tende a ser algo mais desafiador.
Segundo uma publicação de julho de 2023 no site da câmara dos deputados, do governo federal, “não há consenso sobre os aspectos que promovem a nomofobia, mas se sabe que é distúrbio multifatorial, ou seja, há razões sociais, funcionais, orgânicas e de saúde.”
Vale lembrar que, manifestar habilidade social é algo que faz parte do desenvolvimento humano. Aqui é possível fazer um contraponto com outro termo que tem sido bastante propagado, e que se relaciona com a nomofobia, que é o chamado de “deficit de natureza”. Ou seja, comparado com outras gerações, crianças e jovens têm muito menos contato e interação com a natureza do que seus pais e avós.
Aquela brincadeira no parquinho, subir na árvore ou revezar o balanço. Brincar na rua. Jogar bolinha de gude, amarelinha, andar de bicicleta ou outras atividades, que na geração anterior eram comuns, foram substituídas por telas. Seja a TV ou o celular.
Sentir ansiedade por ficar sem acesso à internet, sem que haja uma razão, como uma questão de trabalho. Sentir pânico por achar que está incomunicável somente porque esqueceu o celular em casa, com sintomas físicos, como, por exemplo, sudorese, taquicardia, e até tremores, são sensações graves e podem ser um sinal de nomofobia. Juntas ou isoladas, são preocupantes.
Se pararmos para pensar que até meados dos anos 2000 era comum ver orelhões¹ nas ruas, concluir a gravidade desses sintomas, fica ainda mais plausível.
Como evitar ou tratar a nomofobia?
Como evitar ou tratar a nomofobia?
No caso de jovens, dar acesso a atividades esportivas e culturais é uma alternativa. Mesmo porque, de modo geral, nos estudos muitas vezes o celular acaba sendo usado como ferramenta de pesquisa. Ou o próprio trabalho, ou aula é realizado no computador. Ter uma atividade externa, de esporte e/ou cultura, pode ser uma saída para a diminuição do tempo de tela.
Levar informação sobre os danos da própria tecnologia à saúde, pode ser um caminho. Por exemplo, informar ao jovem que “a luz emitida pelas telas dos dispositivos bloqueia a liberação da melatonina.” Ou “estudos apontam que a exposição excessiva na tela afeta o desenvolvimento cognitivo e aumenta o risco de doença de Alzheimer e demências relacionadas na vida adulta”.
Se nada disso adiantar, talvez informar que o celular pode superaquecer e pegar fogo resolva. E assim, o jovem se desconecte pelo menos na hora de dormir.
Ações que devem ser feitas para minimizar os impactos e tratar quem já está com alguma dificuldade de ficar longe do celular, são:
- Diminuir progressivamente o uso do celular
- Só usar o celular após no mínimo 30 minutos depois que levantou
- Evite smartwatch
- Desconecte 1 hora antes de dormir. Coloque o celular para carregar em modo avião
- Coloque o celular para carregar em outro cômodo
- Compre um despertador, para não depender do “relógio do celular”
Tratar a nomofobia depende primeiro de tudo do reconhecimento de que o vício em tela e tecnologia existe. Até onde se sabe, a melhor maneira ainda é a psicoterapia, para que o autoconhecimento leve para um caminho saudável e equilibrado, entre “vida real” e virtual.
Se você não sabe, por exemplo, como procurar uma palavra em um dicionário, porque sempre usou um buscador online, nossa dica é: converse com sua avó, pergunte como ela fazia na época dela 😬. Ouvir as histórias dos mais antigos proporciona ensinamentos que vão além do que qualquer tecnologia pode trazer. Além disso, garante memórias afetivas com o melhor detox digital que uma pessoa pode ter. Experimenta 😉.