Com alto custo assistencial, operadoras dependem de usuários para a construção de uma solução econômica. Pronto, produto deve beneficiar pequenas empresas

São Paulo – Antes de pensar em planos de saúde mais baratos, o setor suplementar aponta para a necessidade de resolver a insustentabilidade do mercado e aproximar beneficiários para a construção de uma nova solução. Para operadoras, se o debate for realizado sem a sociedade, novo modelo pode aumentar a judicialização.

“A expectativa do produto está dissociada da realidade”, aponta a presidente da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), Solange Beatriz Mendes.

De acordo com a executiva, atualmente, o setor deve lidar com o aumento da judicialização, a incorporação de novas tecnologias, fraude e desperdício, o que encarece as operações. Portanto, para conseguir oferecer um plano com preço mais acessível é necessário primeiro analisar como reduzir o custo assistencial e operacional. “O debate não é apenas preço, mas financiamento, porque alguém vai ter que pagar os procedimentos e exames inclusos”, comenta.

“Por enquanto, o plano não existe. Precisa ser construído”, menciona. De acordo com ela, para chegar a um consenso é necessário decidir o que tornará o produto mais barato. Em julho deste ano, o ministro da Saúde, Ricardo Barros, citou a possibilidade da criação de planos que possam oferecer uma cobertura proporcional ao preço cobrado. Contudo, operadoras temem que a falta de cobertura para determinados procedimentos possam aumentar o índice de judicialização no País, que segundo elas, já é alto. Por isso, Solange acredita que o consumidor é o principal protagonista na discussão. “Ele deve decidir do que quer abrir mão, porque algo terá que ser cortado. Se o modelo tiver consenso, então não há porque ter um aumento da judicialização”, comenta a executiva. Por parte da operadora, a preocupação, segundo ela, deve ser a garantia do serviço que está sendo pago. “O consumidor é o protagonista”, diz.

“Cerca de 80% das pessoas que não possuem plano de saúde apontam que o motivo é o preço. Por isso elas devem decidir se querem um plano mais barato e o que é essencial no mesmo”, afirma o superintendente executivo do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), Luiz Augusto Carneiro.

Caso, o consenso não seja feito, o executivo aponta que não impactará apenas o indicador de judicialização mas o interesse das operadoras em comercializar este modelo de plano. “Se a quantidade de processos judiciais aumentar muito, as [operadoras] podem optar por não vender”, ressaltou ao DCI.

Para o superintendente do IESS, o tema ainda deverá exigir uma agenda de discussões, por isso, será difícil conseguir uma solução nos próximos meses. “Devemos ver uma solução em médio prazo”, comenta Carneiro.

O lado positivo

Ainda de acordo com ele, caso a sociedade, os reguladores e as operadoras cheguem a uma solução, o plano de saúde econômico deverá ser atraente, sobretudo, para operadoras de menor porte e em cidades do interior. No âmbito das contratantes, ele acredita que micro, pequenas e médias empresas também devem se interessar pelo novo produto.

Para Carneiro, a expectativa com o produto é positiva, mas depende da flexibilização. Como exemplo, ele cita a Austrália, onde o sistema público é excelente e mesmo assim tem quase 50% da população com plano privado. “Há experiências bem-sucedidas fora do País em que a cobertura não é integral e na prateleira”, cita o superintendente.

Caminho

Para conseguir criar um modelo mais econômico, Carneiro também acredita que seja necessário encontrar os fatores que encarecem o plano. Por isso, para ele, o primeiro passo para a sustentabilidade do mercado é criar indicadores de qualidade. Atualmente, os números divulgados pelo setor são apenas das operadoras. “Em outros países existem sites com indicadores dos prestadores de serviço, como as taxas de reinternação, eventos adversos e mortalidade”, diz.

Segundo ele, isso ajuda na diminuição dos desperdícios, na qualidade do serviço, na implementação de um novo modelo de remuneração e até na negociação entre a operadora e o prestador de serviço. “Mas isso deve ser uma exigência do governo”, cita. Nos Estados Unidos (EUA), por exemplo, foi criada uma Agência que cuida apenas dos indicadores de qualidade, que também são auditados.

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