“O sono é fundamental para a vida, em especial para guardar memória e hoje não é muito valorizado. A média ideal são 7 ou 8 horas de sono por dia. Caso contrário, há aumento de mortalidade, riscos cardiovasculares e diminuição do efeito de vacinas. A média do brasileiro é muito baixa. O profissional que dorme mal trabalha mal, e há uma queda de produtividade”. A afirmação é do neurologista Fernando Morgadinho, especialista do sono e professor de Neurologia da Unifesp. O médico foi o expositor do Seminário Lide Saúde e falou sobre o tema “O sono e a qualidade de vida”. O evento, promovido pelo Lide – Grupo de Líderes Empresariais, ocorreu ontem à noite, no Auditório da Gocil, em São Paulo. O debate foi mediado por Gustavo Ene, CEO do Lide.

De acordo com o neurologista, a qualidade do sono está relacionada com a raiz do funcionamento orgânico e tem relação direta com o aprendizado e à capacidade intelectual. Morgadinho reforçou que o sono é responsável pela conservação de energia e da memória. “Quem dorme bem, esquece menos. No momento do sono, o organismo começa a reorganizar seus sistemas para uma nova jornada de atividades. A imunidade é reforçada, células são renovadas e a memória é consolidada”, disse.

“A maioria dos adultos acumula de 5 a 7h30 de débito de sono ao longo de uma semana regular de trabalho. A restrição de sono é aditiva, que leva ao aumento da sonolência, que pode afetar o julgamento e o desempenho mental. A piora no desempenho se acumula com restrição crônica de sono”, afirmou o médico.

O especialista relatou que a quantidade e a qualidade do sono se modifica com a idade. “O recém-nascido tem mais sono que uma criança maior, podendo dormir até 18h por dia. Após os três anos em média, a criança precisa de um bom tempo de sono durante a noite e um cochilo diurno. A partir dos seis anos de idade, aproximadamente, a criança dorme apenas no período noturno. Já os adolescentes possuem um padrão com tendência de dormir mais tarde e acordar mais tarde. A média de sono da população adulta é de 6 a 9h por dia, variando de acordo com a necessidade da pessoa”, explicou o médico, que também pontuou que a criança com dois anos é a que aprende mais.

Segundo o neurologista, a falta de sono pode gerar uma série de alterações no organismo. Morgadinho afirma que dormir pouco aumenta o risco de doenças porque o sistema imunológico precisa de descanso para responder às ameaças com eficiência. “Dormir pouco pode causar aumento de peso e estresse e ainda elevar o risco de doenças cardiovasculares, diabetes, obesidade e hipertensão e outras doenças”, afirmou.

O especialista dá dicas para evitar alimentos gordurosos, café, estimulantes (bebidas energéticas) e automedicação. “Alimentos que contêm uma substância química chamada tiramina – como bacon, queijo, nozes e vinho tinto – podem nos manter acordados durante a noite. Isto acontece porque a tiramina provoca a liberação de noradrenalina, um estimulante cerebral”, explica. Morgadinho reforça que os estimulantes oferecem sobrecarga cardiovascular e alerta para o uso de medicamentos incorretos.

Outro fator preocupante com a falta de sono, de acordo com o médico, é que ela estimula o ganho de peso. “Dormir mal aumenta o apetite ao elevar os níveis de hormônios relacionados à fome”, afirmou.

O médico comparou a privação do sono com os efeitos do álcool, pois ambos afetam o desempenho mental e físico da pessoa. “19 horas sem dormir, para um homem de 90 kg, corresponde a 6 copos de cerveja ou 3 copos de vinho; já 24 horas sem dormir gera efeitos equivalentes a 12 copos de cerveja ou 6 copos de vinho”, disse.

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