O setor de saúde, no Brasil, seja pública ou privada, vive um momento de alerta. Por isso, quem atua nesta área, deve observar que o país está enfrentando um processo gradativo de mudança demográfica. O acelerado processo de envelhecimento da população preocupa e é um dos fatores que nos levam a repensar o modelo de atenção praticado atualmente. Dados do Censo 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que, em 1991, os brasileiros com mais de 65 anos eram 4,8% da população. Em 2000, essa faixa etária passou a representar 5,9% e, em 2010, já era 7,4%.
Em diversas partes do mundo, especialmente na Europa, vem acontecendo um importante movimento para questões voltadas a mudanças na forma como se aborda a saúde das pessoas e se realizam os atendimentos. O cerne dessa discussão está na capacidade de se antever situações que produzam agravos à saúde, procurando engajar cada beneficiário também como agente de cuidado ao próprio bem-estar, a partir da manutenção de hábitos saudáveis, otimizando o modelo de acolhimento e garantindo a sustentabilidade do setor.
Aos moldes do restante do mundo, o modelo de atenção à saúde no Brasil, investe cerca de 8% do PIB, e precisa ser repensado deixando de ser hospitalocêntrico, focado em tratar doenças já diagnosticadas, e priorizando os atendimentos baseados na atenção primária. É dessa forma que trabalham países europeus que investem cerca de 8% do PIB e oferecem saúde de melhor qualidade que os Estados Unidos, por exemplo, que utilizam o modelo hospitalocêntrico e gastam cerca de 17% do PIB. Esse conceito está presente no SUS e, gradativamente, vem chegando à saúde suplementar.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a atenção primária ou básica se define como “o primeiro nível de contato dos indivíduos, da família e da comunidade com o sistema nacional de saúde, levando assistência o mais próximo possível do local onde as pessoas vivem e trabalham, constituindo um importante elemento de um processo de atenção continuada à saúde”.
Na prática, isso significa vincular o paciente a um médico, que faz parte de uma equipe multidisciplinar, com a missão de gerenciar o cuidado com esse indivíduo. Dessa forma, o atendimento acontece de forma integral e não apenas quando o paciente está doente.
A exemplo do que vem se buscando fazer na saúde pública, os planos de saúde têm procurado trabalhar com o modelo preventivo, oferecendo serviços médicos que incentivam hábitos saudáveis, promovem o autocuidado e oferecem saúde de melhor qualidade aos beneficiários. É importante que esse conceito se expanda e se consolide no mercado brasileiro. A saúde integral deve ser levada a sério pelos agentes de saúde, médicos e pela sociedade. Esse é o caminho para se ter um sistema sustentável e mais eficiente para todos os envolvidos.
*diretor de Controle da Unimed Federação Minas e diretor presidente da Unimed São João Del-Rei.