A expansão do surto de febre amarela silvestre em estados vizinhos fez o estoque de vacinas na cidade do Rio praticamente zerar. Só este mês, mais de 17 mil doses foram aplicadas, quando a média mensal é de cinco mil, segundo a Secretaria Municipal de Saúde. Os postos estão sem doses para distribuir ou com estoques no fim, e a previsão é de receber vacinas do Ministério da Saúde só daqui a alguns dias.
— Não tem vacina, todo mundo está viajando para Minas — brincou a atendente de uma das unidades, em alusão à justificativa usada pela maioria das pessoas que querem se vacinar, já que a imunização é indicada apenas a quem está indo para áreas onde há registro do vírus.
Mesmo quem estiver disposto a pagar entre R$ 150 e R$ 240 pela dose da vacina terá que esperar. Um levantamento feito pelo GLOBO em oito redes de clínicas particulares constatou que, em todas, o estoque também acabou. Algumas não oferecem a imunização desde a primeira semana de janeiro.
Segundo a maioria das clínicas, a previsão é de que os estoques sejam repostos em meados de fevereiro. Outras não souberam informar quando haverá novas doses. Além do crescimento na demanda pela imunização, as clínicas afirmam que o laboratório da Sanofi Pasteur, que fornece a vacina para a rede particular, estaria com problemas na produção. Em nota, a empresa negou os problemas e informou que um novo lote chegará em fevereiro.
CASOS SUSPEITOS
O Rio de Janeiro é um dos sete estados brasileiros fora da área de recomendação da vacina, mas os últimos boletins epidemiológicos de outras unidades da federação têm assustado a população fluminense. Em Minas Gerais, já são 393 casos notificados da doença. Entre eles, 67 estão confirmados e 83 mortes foram registradas, sendo 38 delas confirmadas. No Espírito Santo, há 22 notificações da doença e, até agora, apenas uma foi confirmada. Na última segunda-feira, o governo de São Paulo confirmou três mortes causadas por febre amarela no estado e informou que está investigando outros dez casos.
Na terça-feira, dia 24, a Bahia também divulgou que registra sete notificações da doença, e que uma delas já foi descartada após exames laboratoriais. Já em Santa Catarina, a Secretaria de Saúde apura quatro notificações suspeitas.O Distrito Federal tem um caso em investigação.
‘NÃO É PRECISO CORRER PARA SE VACINAR NO RIO’
Para Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), é importante alertar que quem mora no estado do Rio de Janeiro não precisa correr aos postos de vacinação, a menos que vá viajar para regiões onde a vacina é recomendada.
— Mais da metade da população brasileira não tem indicação para a vacina, porque mora no litoral do país. Não é para sair vacinando quem não vive na área de recomendação e não viajará para ela — destaca Kfouri. — Hoje, não existe necessidade de vacinação de rotina contra a febre amarela no Rio, um estado que não tem qualquer registro do vírus. Isso só será repensado caso macacos mortos com a doença sejam encontrados dentro do estado, o que considero pouco provável.
Como medida preventiva, a Secretaria de Estado de Saúde do Rio anunciou ontem que enviou mais 350 mil doses da vacina para os municípios fluminenses. Segundo a pasta, 250 mil doses serão utilizadas em ação de bloqueio nas cidades da região Noroeste, Norte, Serrana e Centro Sul do estado. As restantes serão para reabastecimento das prefeituras.
— O principal critério para definição da ação de bloqueio é a proximidade com as áreas de surto em Minas Gerais: estamos recomendando a intensificação da imunização da população que vive na divisa dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo — afirmou o secretário de Estado de Saúde, Luiz Antônio Teixeira Jr.