Sem nenhum histórico de câncer na família e com os exames de rotina geralmente normais, a radialista Ana Paula Suzuki tomou um susto ao receber um diagnóstico de suspeita de um tumor de mama aos 38 anos. Os próprios médicos duvidavam que o nódulo era maligno, considerando o tamanho do caroço e a pouca idade de Ana. Por insistência da radialista, exames mais aprofundados foram feitos e o diagnóstico confirmou o receio dela.

O nódulo era, de fato, um câncer de mama, de um tipo agressivo, que exigiu cirurgia, quimioterapia e radioterapia. Embora o envelhecimento seja um dos principais fatores de risco para o aparecimento do câncer, a ocorrência da doença entre adultos jovens não é tão incomum e tem aumentado nos últimos anos, de acordo com especialistas. Dados inéditos de um levantamento do A. C. Camargo Cancer Center, centro de referência, mostram que 30% de todos os tumores tratados na instituição entre 2000 e 2012 ocorreram em pacientes com até 40 anos.

Foram 17.871 pessoas com o diagnóstico da doença no hospital no período, dos quais 4.332 tinham entre 19 e 40 anos e outros 1.149 estava na faixa até os 18 anos. Para os médicos, duas razões explicam o crescimento de câncer em jovens: o aumento do diagnóstico precoce e uma maior exposição a fatores de risco, como obesidade, sol, tabagismo e infecções por alguns tipos de vírus.

“O câncer ainda é uma doença de predomínio em pessoas mais velhas, mas hoje em dia temos mais exposição a agentes carcinógenos do que antigamente”, diz Ademar Lopes, cirurgião oncologista e vice-presidente do A. C. Camargo. Para Riad Younes, diretor do Centro de Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, alguns desses fatores começam a estar presentes mais cedo na vida das pessoas. “Décadas atrás não tínhamos esse nível de poluição nas cidades.

Também não tínhamos tanta obesidade na adolescência. Quanto mais cedo a pessoa entra em contato com esses agentes, mais cedo ela poderá desenvolver um câncer”, explica Younes. Susto. Para Ana Paula, receber o diagnóstico da doença foi um choque para ela e a família. “É como se fosse uma bomba, fiquei bem chateada, saí do médico e só chorava.

O tratamento também foi uma fase difícil, pelas dores físicas e psicológicas, mas sempre fui uma pessoa muito otimista, então não me entregava”, conta ela. Hoje com 42 anos, ela ainda faz acompanhamento médico, mas não há resquício do tumor desde 2013. Segundo os dados do A. C. Camargo, o câncer de mama foi o segundo tipo mais comum entre mulheres na faixa dos 19 aos 40 anos, só atrás do de tireoide.

O terceiro mais prevalente foi o de colo do útero. Entre as mulheres de mais de 40 anos, o de mama é o campeão de casos. Já entre os homens com idade entre 19 e 40 anos, os tipos mais frequentes no hospital foram o de pele tipo melanoma, de tireoide e de testículo, este último muito mais comum entre jovens do que entre pacientes mais velhos.

O empresário Guilherme Salgueiro, de 33 anos, foi uma das vítimas desse tipo de tumor. “Senti uma dor forte no testículo e decidi ir ao médico. Como descobri cedo, bastou a retirada do testículo onde estava o tumor e fiquei curado. É colocada uma prótese no local e não há nenhuma sequela. Tenho uma vida normal”, conta.

DEPOIMENTO Faço exames de rotina há 16 anos. Quando completei 30, em 2014, minha médica decidiu solicitar alguns exames a mais. Pediu o ultrassom de tireoide e, nele, apareceu um nódulo e um cisto. Ela me encaminhou para o endocrinologista, fiz punção e havia a chance de ser maligno. A recomendação era retirar a tireoide. Depois da cirurgia, a biopsia confirmou que era câncer. Alguns linfonodos retirados também deram positivo e, por isso, tive de fazer a iodoterapia (tratamento com iodo radioativo para matar células cancerígenas). A parte chata foi ficar isolada no hospital por dois dias e depois mais alguns dias dentro de casa por causa da radiação. Mas, em nenhum momento, eu fiquei desesperada.

Em cada fase da doença, tentei ver o lado positivo. Em vez de pensar que tinha câncer, dava graças a Deus por ser um tumor de tireoide, que não é tão grave e pode ser curado. Ao lidar com tudo isso, eu percebi que muitas pessoas ainda viam o câncer como uma doença muito grave, complicada, às vezes como uma sentença de morte. Há seis anos, eu escrevo um blog de beleza.

Como tenho 200 mil acessos por mês, decidi usar esse espaço para mostrar que a realidade não era bem assim. Fiz vários posts e vídeos, explicando sobre o tratamento, acalmando as pessoas, e vejo que isso foi muito importante, porque muita gente me procura agradecendo, dizendo que só lia coisa ruim na internet sobre a doença. O diagnóstico de câncer é sempre difícil. Tive fases complicadas também, como quando criei uma neurose de que tudo que eu sentia poderia ser o câncer voltando. Mas fui conversando com meu médico, me informando, tendo apoio da família e dos amigos e vi que não era assim.

A remoção da tireoide traz algumas mudanças. A gente passa a tomar hormônios e leva alguns meses para achar a dosagem ideal. Não tive tantos efeitos colaterais, só me sentia mais sonolenta, mas passou. Hoje, tenho rotina um pouco diferente, mas no final acabou sendo bom porque estou cuidando ainda mais da saúde.

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