No dia 19 de maio é comemorado o Dia Nacional de Combate à Cefaleia, uma iniciativa da Sociedade Brasileira de Cefaleia (SBCe) com o intuito de chamar a atenção da população a respeito da dor de cabeça. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que 50% da população geral apresenta cefaleia durante um determinado ano e mais de 90% refere história de cefaleia durante a vida.

O maior estudo epidemiológico da entidade foi divulgado em 2008 e revelou que mais de 72% dos brasileiros sofrem com dores de cabeça. Já o último estudo, aponta que entre 3,8 mil entrevistados, 15,2% apresentavam enxaqueca clássica, 13% possuíam cefaleia tensional, forma mais comum associada à tensão muscular, e 6,9% sofriam com cefaleia crônica. De acordo com a SBCe, a cefaleia é a sexta doença mais incapacitante do mundo. Segundo a OMS, os brasileiros gastam mais de R$ 2 bilhões em analgésicos mensalmente.

“São números alarmantes. Geralmente a cefaleia se torna crônica, ou seja, se inicia com dores menos frequentes, consideradas ‘normais’, e com o aumento das crises e o uso excessivo de analgésicos se transforma em uma cefaleia quase diária”, afirma o neurologista do Instituto de Neurologia do Hospital Santa Paula, João Roberto Sala Domingues, especializado em dor de cabeça pela International Headache Society.

Segundo o neurologista, a cefaleia pode ser dividida em cefaleia primária, cefaleia secundária e um terceiro grupo que engloba as neuropatias cranianas dolorosas, outras dores faciais e outras cefaleias.

Cefaleia primária: É quando a própria dor de cabeça é a doença a ser tratada e não há nenhum problema estrutural, como tumores, anomalias ósseas ou anatômicas provocando a dor de cabeça. Exemplos deste caso são a cefaleia tensional e a enxaqueca.

A cefaleia primária é a mais comum e pode evoluir com a piora da frequência e intensidade das crises, transformando-se em cefaleia crônica diária. Essa está relacionada ao uso excessivo de analgésicos orais em decorrência da desinformação dos pacientes e da automedicação. De 3 a 5% da população mundial adulta sofre de cefaleia crônica diária, o suficiente para causar algum tipo de incapacidade para realizar tarefas do dia a dia. A enxaqueca é um subtipo de cefaleia crônica diária. Ela pode ser tratada e controlada, mas não tem cura, ao contrário de outros tipos de cefaleia.

Cefaleia secundária. É quando há uma causa a ser descoberta e tratada especificamente. Neste caso, a dor está relacionada a outras causas, como sinusite, tumores, aneurismas, meningite, etc.

Quando a dor de cabeça pode ser sintoma de algo mais grave, esses sinais de alerta recebem o nome de red flags. Os mais comuns são início súbito da dor, forte intensidade, uma dor progressiva ou que não melhora, alteração no padrão da dor, dor associada à febre e rigidez da nuca ou fraqueza de alguma parte, dor após traumatismo craniano ou após esforço físico e início da dor após os 50 anos. Na presença de qualquer um destes sintomas é importante procurar um médico.

Neuropatias cranianas dolorosas, outras dores faciais e outras cefaleias: neste grupo, a mais comum é a nevralgia do trigêmeo, uma dor aguda ou semelhante a um choque elétrico em partes do rosto, mas outros nervos cranianos também podem ser acometidos.

Tratamento
Segundo o neurologista, para cada tipo de cefaleia há um tratamento específico, que pode ser desde terapias não-farmacológicas (mudança de hábitos e vícios, fisioterapia e psicoterapias, técnicas de relaxamento e acupuntura) a terapias farmacológicas (analgésicos, antidepressivos, anti-hipertensivos e até anticonvulsivantes). Já o tratamento da cefaleias secundárias devem ser direcionados à sua causa: cirurgia, antibióticos e anticoagulantes.

Alguns tipos de cefaleia são mais comuns em mulheres, principalmente pelas oscilações hormonais (estrógeno). A principal delas é a enxaqueca, três vezes mais comum do que em homens. Após a menopausa, quando não há mais uma oscilação hormonal tão importante, a proporção em mulheres e homens tende a se igualar. Já nos homens são mais comuns as cefaleias em salvas, a mais intensa descrita pela medicina. Trata-se de um tipo de dor de cabeça onde a dor é localizada somente numa parte da cabeça.

Entre as novidades, o uso da toxina botulínica do tipo A é o que há de mais recente no caso de enxaqueca crônica. A cada sessão, a substância pode ser injetada em até 39 pontos da cabeça e do pescoço do paciente, em aplicações a cada quatro a seis meses, podendo já haver uma melhora terapêutica após a primeira sessão de aplicação.

Prevenção
O médico afirma que diversos fatores podem desencadear uma crise, entre eles aspectos emocionais e estresse, variações bruscas de temperatura e umidade do ar, menstruação, fatores hormonais e alimentação.

“A ideia de normalidade atribuída à cefaleia é perigosa, atrasa o diagnóstico e um tratamento adequado, podendo ainda levar à automedicação, grave problema cultural em nosso país. Escute seu corpo. A dor é o meio que ele tem de chamar sua atenção de que algo não vai bem”, ressalta João Roberto.

Veja abaixo algumas dicas:

– Dor de cabeça também pode ser fome. Ficar muito tempo em jejum pode levar à queda de açúcar no sangue (hipoglicemia), que é um dos principais desencadeadores da enxaqueca. Em algumas situações de jejum também nos deparamos com a abstinência de outras substâncias, como a cafeína, que também pode desencadear na cefaleia.

– Problemas oftalmológicos como a hipermetropia, miopia e astigmatismo podem causar dor de cabeça. Nesses casos, o paciente relata acordar bem, mas durante ou no final do dia começam as dores. A este tipo de queixa damos o nome de astenopia. Uveítes (doença inflamatória nos olhos) e glaucoma agudo também podem provocar essas dores de cabeça.

– Durante a crise sempre tenha o medicamento indicado pelo médico por perto. Em caso de dor intensa, procure um local fresco e escuro para recostar. Beba muita água, coma moderadamente e mantenha-se em repouso. Colocar gelo sobre as áreas doloridas também pode minimizar a dor.

– A herança genética também tem a sua importância, mas o que mais tem sido considerado ultimamente é a qualidade de vida do paciente. Um indivíduo que come mal, fuma, bebe, não faz exercícios físicos regularmente e não tem um sono reparador terá uma maior chance de desenvolver ou agravar uma cefaleia já pré-existente.

– A cafeína potencializa os efeitos de outros analgésicos e tem sido usada como auxiliar no tratamento da cefaleia, principalmente na enxaqueca e na cefaleia do tipo tensional, inclusive por abstinência da própria cafeína. Porém o uso abusivo ou em indivíduos sensíveis a esta substância, a cafeína pode precipitar alguns tipos de cefaleia, principalmente a chamada cefaleia em salvas que, como foi falado anteriormente, é a mais intensa de todas.

Fonte: Bonde.