Um estudo conduzido pelo HCor (Hospital do Coração), em parceria com o PROADI-SUS – Programa de Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde -, testou a eficácia do marca-passo para depressão moderada – que não responde ao tratamento convencional com drogas e psicoterapia. Realizado durante dois anos, participaram deste estudo 20 pacientes que foram divididos em dois grupos: no primeiro grupo foram implantados eletrodos na região da testa e ligados cirurgicamente a um marca-passo localizado abaixo da axila. Já o segundo grupo foram tratados com adesivos colocados acima da sobrancelha, durante a noite, por 12 semanas.
Segundo o neurocirurgião do HCor, Dr. Antonio De Salles, o objetivo foi testar o nervo trigêmeo – que confere sensibilidade à face e é uma via importante de acesso ao cérebro -, em pacientes com depressão cujo tratamento convencional não respondia. A ideia era avaliar qual estimulo era mais eficaz: a estimulação contínua por meio de marca-passo ou o adesivo colocado a noite”, explica Dr. De Sales.
Para a Dra. Alessandra Gorgulho, neurocirurgiã do HCor, o resultado foi promissor. Os pacientes que tiveram o implante de marca-passo e receberam a estimulação continua tiveram melhora da depressão, sendo mais eficaz que o adesivo externo. “Isto mostra que a melhora da depressão nestes pacientes é maior por meio da estimulação durante todo o dia. Já o adesivo causa uma melhora na doença, mas não duradoura”, esclarece a neurocirurgiã do HCor.
A depressão é a maior causa de afastamento do trabalho e de suicídios, além da diminuição da imunidade, entre outros fatores. “Com este resultado renova-se a esperança das pessoas voltarem a ter uma melhor qualidade de vida”, afirma Dr. De Salles.
A depressão afeta 322 milhões de pessoas no mundo, segundo dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Em 10 anos, de 2005 a 2015, esse número cresceu 18,4%. A prevalência do transtorno na população mundial é de 4,4%. Já no Brasil, 5,8% da população sofre com esse problema, que afeta um total de 11,5 milhões de brasileiros. Segundo os dados da OMS, o Brasil é o país com maior prevalência de depressão da América Latina e o segundo com maior prevalência nas Américas, ficando atrás somente dos Estados Unidos, que têm 5,9% de depressivos.
Marca-passo para depressão:
dois eletrodos são implantados sob a pele, na região da testa, para estimular eletricamente o nervo trigêmeo (importante via de acesso ao cérebro);
os eletrodos são ligados a um marca-passo, também cirurgicamente, que dispara uma micro corrente elétrica;
os neurônios reagem ao estímulo e voltam a funcionar em níveis normais.