Membro do conselho consultivo e ex-presidente da Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig)
Desde o início de 2017, a rede pública de saúde passou a disponibilizar a vacina contra o vírus do papiloma humano (HPV) para meninos de 12 e 13 anos, como parte do calendário nacional de vacinação. O Ministério da Saúde informou que a faixa etária será ampliada até 2020, gradativamente, quando atingirá meninos de 9 a 13 anos.
A Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig) acredita na importância dessa vacina e na necessidade de garantir maior cobertura entre adolescentes de ambos os sexos, nas faixas etárias indicadas, visando reduzir a incidência do câncer HPV. O Brasil é o primeiro país da América do Sul e o sétimo no mundo a oferecer essa vacina para meninos.
O HPV é uma preocupação de diversos órgãos de saúde, comprometidos com a saúde sexual e reprodutiva mundial. O homem tem se tornado um vetor e reservatório da infecção pelo HPV. Não existe um grupo de risco para o vírus. No início da atividade sexual, a maioria dos adolescentes tem contato com o vírus, que pode se manifestar clinicamente, causando verrugas genitais em ambos os sexos, lesões pré-malignas no colo do útero, vulva, vagina, pênis, ânus e garganta. As lesões sem tratamentos podem evoluir para cânceres. O vírus também pode ficar latente ao longo dos anos, sendo reativado em situações de imunodepressão.
O momento ideal para a vacinação é na pré-adolescência, quando ainda não houve contato com o vírus e ocorre uma melhor resposta imunológica, ou seja, uma maior produção de anticorpos, evitando a infecção pelo HPV.
A decisão de ampliar a vacinação para o sexo masculino está de acordo com as recomendações das sociedades brasileiras de pediatria, imunologia, obstetrícia e ginecologia, além de DST/Aids. A estratégia protege contra os cânceres de pênis, garganta e ânus, diretamente relacionados ao HPV. Nas meninas, o principal foco da vacinação, é contra o câncer de colo do útero, vulva, vagina e ânus; lesões pré-cancerosas; verrugas genitais e infecções.
Para se obter redução significativa das doenças HPV induzidas, é necessário alcançar cobertura vacinal de 80%. A estratégia da vacinação nas escolas, além dos postos de saúde, é uma forma eficaz de conseguir uma boa cobertura. A vacina disponibilizada para os meninos é a quadrivalente, já oferecida para as meninas pelo SUS, desde 2014. Confere proteção contra quatro subtipos do vírus HPV (6, 11, 16 e 18), com 98% de eficácia, para quem segue corretamente o esquema vacinal. Ainda vale ressaltar que os cânceres de garganta e de boca são o sexto tipo de câncer no mundo, com 400 mil casos ao ano e 230 mil mortes. Mais de 90% dos casos de câncer anal são atribuíveis à infecção pelo HPV. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 265 mil mulheres morrem a cada ano em decorrência do câncer do colo do útero.
Com a vacinação para o HPV disponibilizada para os meninos, abre-se uma importante discussão envolvendo educação sexual, uso de preservativos, planejamento familiar, testes para HIV, sífilis e vacinação para hepatite B. Todas essas medidas estão relacionadas à saúde sexual e reprodutiva e, somadas à disponibilização da vacina contra HPV, possibilitarão uma redução significativa de infecções e cânceres. Como não vacinar?