Empresário propõe uso da logística de informações na cadeia de serviços médicos

Mariana Canhisares
ESPECIAL PARA O ESTADO


Há 13 anos, antes dos smartphones, banco de dados e aplicativos serem tão familiares, não era comum pensar em logística de informações, sobretudo aplicada aos sistemas de saúde. Mas, já naquela época, o médico Francisco Vignoli enxergava a possibilidade de criar um negócio rentável, capaz de resolver dores de cabeça de empresas e funcionários. Hoje, em tempos de consultas ao Dr. Google, a Carelink não é mais um sonho. É uma empresa que, apenas no ano passado, faturou R$ 5,6 milhões e tem previsões para lucrar R$ 7,3 milhões em 2017.

Apaixonado por medicina, mas avesso à rotina médica, Vignoli percebeu, ao deixar o consultório e começar a trabalhar no setor administrativo, que havia um crescente aumento dos gastos das empresas com os benefícios de saúde. “Quando representavam 3%, eram absorvidos naturalmente. À medida que avançaram para 12%, que é o quadro atual, apontando para 20%, tornou-se uma preocupação”, diz.

Simultaneamente, outro cenário era recorrente: pacientes passando por vários médicos e não descobrindo a causa do seu mal-estar. “É uma cadeia de serviços equivocada. Foi essa inquietude que me orientou a empreender em alguma coisa na qual eu pudesse intervir e harmonizar um sistema que, para mim, está no seu ápice de desorganização”, afirma.

Primeiro, criou no Rio de Janeiro a B2 Saúde, uma consultoria cujo objetivo é auxiliar as empresas no relacionamento com os plano de saúde. Para isso, faz o mapeamento do perfil dos funcionários e seus dependentes, considerando profissão, principais queixas e a cobertura adequada às necessidades de cada um.

Feito o diagnóstico, era preciso apresentar uma solução. Por isso, dois anos mais tarde, desenvolveu o software Carelink, que usa um banco de dados dinâmico para apresentar possíveis caminhos e produtos para a melhor gestão dos recursos referentes ao benefício saúde.

O database, alimentado com informações geradas por empregadores, planos de saúde e usuários, têm no smartphone uma poderosa ferramenta de acompanhamento médico. O uso de todos esses dados resulta no que ele chama de logística de informações.

“Começo a monitorar o indivíduo em casa. Através do celular, consigo mensurar peso, pressão arterial, glicemia, oxigênio… Com isso e um call center de apoio, posso ter uma visão médica de prevenção, promoção e correção, e ainda adotar um posicionamento ativo nesse processo.”

Nos primeiros anos, porém, a própria tecnologia foi um desafio. “Não foi fácil, nem barato”, diz ele, que investiu ao longo dos anos cerca de R$ 5 milhões na ferramenta. “Uma das armadilhas da tecnologia é a rápida obsolescência. Então, é preciso entrar com a tecnologia rapidamente, popularizá-la para o custo baixar e, assim, implantá-la.”

Tecnologia. A evolução tecnológica contribuiu para o bom desempenho da empresa. “Não adiantava ter celular e mandar SMS. Eu precisava ter uma relação melhor. Quando surge o smartphone, passo a conseguir tratar os dados individualmente. Agora, temos as ferramentas para brincar legal.”

Na atual etapa do negócio, porém, o obstáculo é outro: há resistência em pensar em logística de informação no meio médico. Ele mesmo, no início, recusou o uso da expressão.

“É necessário convencer o mercado de que é preciso uma postura nova, já que a medicina tem sofrido, nos últimos anos, uma revolução. Porém, esse processo está desorganizado. Por exemplo, existem tratamentos de câncer cada vez mais eficientes, mas muito caros. Então, dar diagnósticos precoces é muito importante. A sociedade não pode se dar ao luxo de desperdiçar dinheiro sabendo que vai precisar de aporte financeiro pesado para situações mais importantes.”

De acordo com Vignoli, o desperdício que existe nesse mercado chega a ser de 50%, no sentido de mal-uso, abuso, redundância e fraude.

Para garantir resultados aos clientes, a remuneração da Carelink é dada de acordo com as metas de economia de gastos alcançados e a compra de produtos pelo cliente, como acompanhamento de hipertensos ou de grávidas. Mas ele garante: “No primeiro ano, fazemos uma redução de 20% nos custos da contratante”.

Para lidar com tantas variáveis e seguir crescendo, diz o fundador, o segredo é estar realmente disponível para o atendimento. “Ser próximo e acessível de fato. Tem de ter vontade de atender e entender as necessidades dos clientes, individual e coletivamente.”

Num período em que troca de mensagens entre médicos e pacientes se tornou tão frequente, reconhecer a tecnologia como ferramenta de aperfeiçoamento do atendimento é crucial. “Ninguém (no meio médico) sabe ainda se comportar nesse mundo novo que está se abrindo entre a realidade e o digital. E talvez seja essa a minha pretensão: ser uma lanterninha nesse novo mundo.”

 

Fonte: Estadão.

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