Nada mais egoísta do que ir ao trabalho quando se está doente. Você pode até ganhar um ponto por aparecer no escritório com o nariz fungando e aguentar o dia inteiro como um soldado para demonstrar seu valor — mas todos à sua volta vão adoecer.
Quando as pessoas levam suas doenças infecciosas para o trabalho, elas se espalham — e quando as pessoas doentes têm um incentivo financeiro para não aparecer no trabalho, menos pessoas adoecem, de acordo com um novo documento do Departamento Nacional de Pesquisa Econômica dos Estados Unidos, organização sem fins lucrativos.
Os pesquisadores estudaram cidades dos EUA com licença médica paga obrigatória e, usando dados municipais e estaduais do Google Flu Trends de 2003 a 2015, buscaram mudanças nas taxas de gripe depois que essa obrigação entrou em vigor.
Nas cidades que adotaram a obrigação de pagar pela licença médica nesse período, os casos de gripe diminuíram cerca de 5% depois que essas leis passaram a vigorar. Para uma cidade com 100 mil habitantes, isso significa que são registrados 100 contágios a menos por semana, estimaram os pesquisadores.
— No ambiente de trabalho, vemos pessoas espirrando, potencialmente contagiosas. É assim que as doenças se espalham — disse Nicolas R. Ziebarth, professor assistente na Universidade Cornell e um dos pesquisadores do estudo.
Para a maioria de nós, ficar na frente do computador sentindo-se mal é uma tortura e não ajuda em nada a recuperação. Mesmo assim, 3 milhões de pessoas, ou 2% da população dos EUA, levam seu mal-estar para o trabalho a cada semana — um fenômeno que os pesquisadores apelidaram de “assiduidade contagiosa”.
Muitos fazem isso por pressões financeiras; quase um terço dos trabalhadores não tem acesso à licença médica paga, de acordo com o Escritório de Estatísticas de Trabalho dos EUA. Os dois terços restantes, que podem se dar ao luxo de se ausentar por doença, precisam parar de arranjar desculpas para ir trabalhar doente.
Quase metade dos trabalhadores diz que se preocupa com o acúmulo de trabalho se eles faltarem por doença. As pessoas que se sentem comprometidas com seu trabalho também têm dificuldade para ficar em casa, porque acham que trabalhar é mais divertido do que se submeter à realidade de estar doente.
— Algumas pessoas querem aparentar que são duronas e mostrar que são muito trabalhadoras — disse Ziebarth.
Os empregadores, por sua vez, deveriam estimular que os funcionários adoentados fiquem em casa. Essa assiduidade — ir para o trabalho doente, independente de a doença ser contagiosa ou não — custa às empresas cerca de US$ 150 bilhões por ano, estimou um estudo.
A produtividade de um trabalhador cai para cerca de um terço quando ele está curvado na cadeira, trabalhando à metade de sua velocidade habitual, dizem os pesquisadores. Se ficar em casa quando estiver doente, ele poderá melhorar mais rápido. E seus colegas de trabalho poderão continuar saudáveis — e completamente produtivos.
Fonte: Jornal O Globo.