Novo vírus foi identificado no início de janeiro e já matou 26 pessoas até quinta (23)
No dia 31 de dezembro de 2019, a OMS (Organização Mundial da Saúde) foi alertada sobre vários casos de pneumonia em Wuhan, na província de Hubei, na China. O vírus não parecia ser conhecido.
Uma semana depois, em 7 de janeiro, as autoridades confirmaram a identificação de um novo vírus que está sendo chamado temporariamente de 2019-nCoV.
A OMS está trabalhando com as autoridades chinesas e especialistas do mundo todo para saber mais sobre esse vírus, como ele afeta as pessoas, como deve ser o tratamento e o que os países podem fazer para responder a essa crise.
Até sexta (24), 41 pessoas morreram e mais de mil tiveram confirmação da infecção. Centenas de milhões de pessoas devem se deslocar pelo país nesta semana para celebrar o Ano-Novo chinês.
China, Taiwan, Tailândia, Japão, Coreia do Sul, Vietnã, Singapura, EUA, França e Nepal já registraram casos do vírus. Não há casos no Brasil.
Veja o que se sabe sobre o caso até agora.
O VÍRUS É NOVO?
Segundo a OMS, sim. Ele pertence a uma cepa desconhecida até agora de coronavírus, uma família de patógenos que abrange de resfriados comuns até a Sars (síndrome respiratória aguda grave), que matou 349 pessoas na China continental e 299 em Hong Kong em 2002 e 2003.
A cepa do vírus atual é em 80% idêntico geneticamente ao da Sars, segundo Arnaud Fontanet, chefe do departamento de epidemiologia no Instituto Pasteur de Paris.
COMO SE DÁ O CONTÁGIO?
A OMS (Organização Mundial da Saúde) afirmou na segunda-feira (20) que acredita que a fonte primária do surto tenha origem animal, e as autoridades de Wuhan disseram que o epicentro do vírus era um mercado de peixes e animais vivos.
Mais tarde, a China confirmou que o vírus se espalhou entre seres humanos que não tiveram contato com o mercado.
Especialistas da OMS disseram que não está claro qual a dimensão do perigo de transmissão do vírus entre pessoas. Segundo eles, os casos de transmissão de pessoa para pessoa documentados até o momento ocorreram em famílias e com profissionais de saúde, o que é esperado para esse tipo de caso.
O que sabe, por ora, é que o contato próximo pode causar o contágio.
QUAL É O PERFIL DOS INFECTADOS ATÉ AGORA?
Segundo informações da OMS desta quarta (22), 72% das pessoas infectadas têm acima 40 anos, 64% são homens e em 40% dos casos os pacientes tinham outras doenças associadas, como diabetes, pressão alta e problemas cardiovasculares. Esses números são relativos a casos encaminhados à OMS nos quais houve hospitalização, o que indica que sejam casos mais graves.
Todos os infectados estiveram em Wuhan, epicentro da epidemia.
As mortes, segundo os dados disponíveis até o momento, também estão concentradas em pessoas mais velhas e que já tinham outras condições clínicas associadas.
A distribuição etária observada até o momento, porém, não significa que a doença não afete outras pessoas, mas, sim, que as manifestações mais visíveis estão nos grupos citados anteriormente.
QUAIS SÃO OS SINTOMAS?
Segundo a Sociedade Brasileira de Infectologia, há casos assintomáticos, infecções de vias aéreas superiores semelhantes ao resfriado (com coriza, febre e dificuldade para respirar) e até casos graves com pneumonia e insuficiência respiratória aguda, com dificuldade respiratória. Radiografias do peito de pacientes infectados apontaram infiltrações nos pulmões.
Crianças de pouca idade, idosos e pacientes com baixa imunidade podem apresentar manifestações mais graves. No caso do 2019-nCov, ainda não há relato de infecção sintomática em crianças ou adolescentes.
Como a China compartilhou com a comunidade internacional o sequenciamento do vírus, os países conseguem confirmar os casos de infecção pelo vírus 2019-nCoV.
Em caso de suspeita e de histórico de viagem para os países afetados (EUA, China, França, Taiwan, Tailândia, Japão, Coreia do Sul, Vietnã e Singapura), é recomendável procurar um serviço de saúde.
COMO SE PROTEGER?
Segundo a OMS, as medidas protetoras gerais são:
Lavar frequentemente as mãos usando álcool em gel ou água e sabão, especialmente após contato com pessoas doentes e antes de se alimentar
Quando tossir ou espirrar, cobrir a boca e o nariz com as mãos ou lenços descartáveis
Evitar o contato próximo com quem tiver febre e tosse
Em caso de febre, tosse e dificuldade para respirar, buscar ajuda imediata e compartilhar o histórico de viagens com os profissionais de saúde
Manter os ambientes ventilados
MÁSCARAS FUNCIONAM COMO MEDIDA PROTETORA?
Depende. De acordo com o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) dos EUA, as máscaras capazes de proteger funcionários do sistema de saúde e cidadãos comuns são aquelas classificadas como N95, ou seja, que protegem as vias respiratórias de aerossóis sólidos (como a fumaça e poeira).
QUÃO AGRESSIVO É ESSE VÍRUS?
Ainda não está claro com que facilidade o 2019-nCoV é transmitido de pessoa para pessoa. Alguns vírus de transmissão aérea são altamente contagiosos, como o sarampo, enquanto outros são menos.
Comparados com aSars, os sintomas desse novo vírus parecem ser menos agressivos, e os especialistas destacam que o balanço de mortos ainda é relativamente baixo. Pelos dados iniciais publicados, a estimativa inicial é de que a letalidade seja em torno de 3% (26 mortes em 912 casos).
“O impacto no pulmão não é como o da Sars”, disse Zhong Nanshan, cientista da Comissão Nacional de Saúde da China em uma coletiva de imprensa nesta semana.
No entanto, os cientistas ressaltam que essa “suavidade” também pode gerar alarde, já que, com sintomas mais leves, as pessoas podem continuar viajando antes de detectarem a presença do vírus.
EXISTE TRATAMENTO?
Não há um medicamento específico para a infecção. Indica-se repouso e ingestão de líquidos, além de medidas para aliviar os sintomas, como analgésicos e antitérmicos, segundo a Sociedade Brasileira de Infectologia. Nos casos de maior gravidade com pneumonia e insuficiência respiratória, suplemento de oxigênio e mesmo ventilação mecânica podem ser necessários.
ESSA É UMA EMERGÊNCIA DE SAÚDE PÚBLICA INTERNACIONAL?
Na quinta (23), após dois dias de reunião, a OMS decidiu ainda não declarar o surto como uma emergência internacional de saúde. Isso não significa que não se trate de uma situação séria, segundo os especialistas da OMS.
“É uma emergência na China, mas ainda não se tornou uma emergência global. Pode ainda se torna uma”, afirma Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor da OMS.
A agência usou essa denominação poucas vezes, como no caso do vírus H1N1, ou febre suína (2009), a epidemia do vírus do ebola (2014-2016) e o vírus da zika (2016).
O governo chinês deu ao surto a mesma classificação que a Sars, o que significa quarentena obrigatória para os diagnosticados e uma possível instauração de restrições para viajar.
O VÍRUS JÁ CHEGOU AO BRASIL? DEVO ME PREOCUPAR?
No Brasil, o Ministério da Saúde diz ainda que, até o momento, não há detecção de nenhum caso suspeito no Brasil de pneumonia indeterminada relacionada à situação que ocorre na China.
A pasta informa que tem realizado monitoramento diário da situação junto à OMS e que ativou um centro de operações de emergência para monitorar possíveis casos suspeitos.
Cinco casos foram informados como suspeitos por secretarias estaduais de saúde. Mas, segundo o ministério, todos foram descartados por não se enquadrarem nos critérios definidos pela Organização Mundial de Saúde para definição de suspeita da doença.
Entre as ações já adotadas, estão a notificação da área de portos, aeroportos e fronteiras da Anvisa, avisos à área de vigilância do Mapa (Ministério da Agricultura) e notificação às secretarias de saúde.
A Anvisa informou ter enviado recomendações a equipes de vigilância em saúde em portos e aeroportos para reforço no controle de possíveis casos suspeitos de coronavírus. O órgão enviou um documento que orienta equipes destes locais sobre o atendimento de viajantes com sintomas e pede notificação imediata de casos suspeitos, além de intensificação em procedimentos de limpeza e desinfecção de terminais. Até o momento, não há recomendação de restrições de viagem.
VOU VIAJAR PARA FORA DO PAÍS. O QUE DEVO FAZER?
A OMS não recomenda nenhuma medida de saúde específica para viajantes além das medidas de proteção gerais já citadas.
Em caso de sintomas sugestivos de doenças respiratórias antes ou depois da viagem, os viajantes devem procurar ajuda médica e compartilhar seu histórico.
A OMS não recomenda nenhum tipo de restrição a viagens para a China ou de comércio com o país com base nas informações disponíveis até agora.
QUE MEDIDAS FORAM TOMADAS EM OUTROS PAÍSES?
O governo chinês impôs restrições de transporte sobre mais de 40 milhões de pessoas em busca da contenção da disseminação do vírus. As medidas, tomadas às vésperas do Ano-Novo Lunar, afetam 13 cidades da província de Hubei.
A China também vetou grandes aglomerações para a celebração do Ano-Novo em Pequim e a Cidade Proibida será fechada a partir de sábado.
Além disso, o governo anunciou a construção de um hospital em Wuhan, epicentro do novo coronavírus, com mil leitos destinados aos cuidados de pessoas infectadas. O plano é que o centro de saúde comece a funcionar em 3 de fevereiro.
Na Tailândia, as autoridades decretaram controles de temperatura corporal obrigatórios para os passageiros procedentes de zonas de alto risco da China.
Medidas similares foram tomadas pelos governos de Hong Kong, onde centenas de pessoas morreram durante a epidemia da Sars entre 2002 e 2003, e Estados Unidos, que estão controlando os passageiros provenientes de Wuhan.
Taiwan, com um caso da doença até sexta (24), emitiu um alerta para os passageiros que viajarem com origem ou destino da província chinesa onde se encontra o foco do problema. O Vietnã reforçou os controles terrestres com seu vizinho chinês.
Os Estados Unidos, com dois casos (um em Washington e outro em Chicago) até sexta (24), também ordenaram a triagem de passageiros que chegam em voos diretos ou de conexão a partir de Wuhan, inclusive nos aeroportos de Nova York, São Francisco e Los Angeles.
Grã-Bretanha e Itália disseram que introduzirão um monitoramento aprimorado dos voos a partir de Wuhan, enquanto a Romênia e a Rússia também estão reforçando os controles.
Fonte: Folha de São Paulo