Especialistas explicam por que a Covid-19 é mais perigosa em pacientes com quadro de diabetes, hipertensão, câncer, doenças respiratórias e outras enfermidades crônicas
Todos nós estamos sujeitos a contrair o novo coronavírus. Mas a doença se manifesta de diferentes maneiras em cada organismo, afetando, de forma mais agressiva, principalmente, uma parcela da população considerada como grupo de risco. Não só os idosos estão mais suscetíveis a ter complicações em decorrência da doença. Entram nessa parcela os diabéticos, hipertensos, cardíacos, pacientes com câncer e acometidos por doenças respiratórias crônicas.
A população mais jovem com doenças congênitas também precisa de cuidado extra, já que essas infecções virais geram alterações grandes no aparelho cardiovascular. “Logo, esse grupo mais jovem terá menos chances de ter uma resposta adequada”, indica Urbaez. Enquanto a mortalidade de uma maneira geral fica em torno de 3,5%, no paciente portador de doença cardiovascular, a letalidade chega a taxas de até 10,5%.
Relatórios da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde colocam os hipertensos e cardíacos entre os mais suscetíveis à Covid-19. Isso porque as complicações mais graves estão ligadas ao pulmão e ao coração e, quando não há um funcionamento adequado da pressão arterial, bem como do próprio coração, o corpo tem mais dificuldades para vencer a doença.
A médica Ludhmila Abrahão Hajjar, diretora da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), detalha de que forma o corpo deste grupo pode ser afetado em casos graves. “Temos o conhecimento baseado nas casuísticas dos últimos dias, pela experiência da China, que o vírus infecta o miocárdio e o sistema cardiovascular, gerando problemas decorrentes da inflamação e da infecção direta do vírus. O sistema cardiovascular é afetado e o paciente pode apresentar arritmias em torno de 15 a 16%, miocardites, insuficiência cardíaca e isquemia miocárdica entre 7 e 10%. De uma maneira geral, o cardiopata é um paciente de maior gravidade, tanto para se infectar quanto para apresentar uma complicação clínica mais forte”, diz a cardiologista.
No caso dos diabéticos, o excesso de glicose no sangue e a tendência para inflamação são fatores que potencializam a vulnerabilidade. “Por terem mais predisposição, esses pacientes diabéticos precisam se preocupar em preservar a imunidade, melhorando a alimentação, fazendo monitoração glicêmica com mais frequência e usando, adequadamente, os remédios”, recomenda a endocrinologista Luciana Corrêa.
O perigo também é maior naqueles acometidos por doenças respiratórias crônicas, já que tanto o sistema imunológico quanto os pulmões são mais enfraquecidos, o que aumenta os riscos de complicações.
No caso das pessoas que passam por tratamento contra câncer, há uma diminuição da imunização, principalmente àqueles com neoplasias hematológicas (como leucemias, linfomas e mieloma múltiplo), que passaram por transplante de medula óssea e que fazem quimioterapia. A Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica alerta para que não haja interrupção dos tratamentos oncológicos. “Assim como toda a população, estes pacientes devem evitar contato físico com outras pessoas”, recomenda.
Idosos
Como têm um sistema imunológico mais frágil em razão da idade e com maior dificuldade de combater um vírus até então desconhecido pelo corpo, uma grande parte dos idosos acaba ocupando os leitos de UTI. “Inicialmente, a idade é o maior fator de risco. Pelas experiências da China, quando o paciente evolui para um caso mais grave, a assistência respiratória com ventilação mecânica e intubação precoce é ordem e o que traz maior evolução do quadro respiratório”, explica a médica especialista em longevidade, Patrycia Tavares.
Justamente para evitar um colapso do Sistema Único de Saúde (SUS), o ministro Luiz Henrique Mandetta destaca que o foco das ações da pasta está em proteger idosos e pessoas com saúde debilitada. “Quanto menos pessoas idosas tiverem a doença, menos utilizaremos os serviços hospitalares“, afirma.
Dados compilados pelo Centro para a Prevenção e Combate a Doenças da China, país de origem do vírus, revelam uma taxa de letalidade de 14,8% nos chineses com mais de 80 anos. O percentual cai para 8% em idosos na faixa dos 70. Quanto mais jovem, menores são os índices de morte, caindo para quase 0% em crianças de até 9 anos.
Além de ter a saúde mais fraca, boa parte da população idosa carrega junto aos anos de vida uma série de doenças desenvolvidas. “As comorbidades estavam presentes em aproximadamente metade dos pacientes, sendo a hipertensão a mais comum, seguido por diabetes e pelas doenças coronarianas”, diz o relatório final do estudo chinês.
O infectologista do Laboratório Exame David Urbaez explica que quanto mais velha a população, mais comorbidades, como diabetes, hipertensão e câncer, ela tende a ter. “No caso de infecções gerais, a idade avançada sempre tem grande peso porque você tem uma desintegração dos mecanismos que podem lutar contra um vírus”, explica. No Brasil, segundo dados de 2018 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os idosos são cerca de 14% da população.
Vacinação
De forma geral, o Ministério da Saúde aconselha esses grupos de risco a respeitarem as orientações de isolamento domiciliar e a tomarem todos os cuidados de higiene. A vacina contra a gripe também é recomendada e a Campanha Nacional de Vacinação terá início no dia 23 de março, quando idosos e profissionais de saúde terão prioridade para se vacinarem.
A imunização também será priorizada para os demais grupos de risco e, apesar de não apresentar eficácia contra a Covid-19, é uma forma de prevenção para outros vírus, ajudando a reduzir a demanda de pacientes com sintomas respiratórios e acelerar o diagnóstico para o coronavírus.
Fonte: Correio Braziliense